Em um contexto de décadas de convívio com a mídia de massa —tida como opressora do ponto de vista do aumento de capacidade expressiva promovido pela Internet, de acordo com Shirky (2008, p. 106)—, baixa penetração da Internet e baixo grau de alfabetização de sua população —o Brasil ocupa o 62º lugar no ranking de alfabetização da ONU¹—, o brasileiro torna-se alguém pouco ou nunca antes convidado à prática da verdadeira autonomia midiática. Não a autonomia que decorre do simples acesso à rede, mas uma autonomia libertadora, capaz de inseri-lo no processo histórico, como sujeito, abrindo caminho à busca da afirmação (FREIRE, 2005, p. 24).
Esta óptica traz à tona diversas ressonâncias entre os propósitos do jornalismo colaborativo e a Pedagogia do Oprimido, segundo a qual “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho” (FREIRE, 2005, p. 58), mas os homens se libertam em comunhão. Em primeiro lugar, é possível comparar a mídia de massa à pedagogia tradicional por sua vocação em “depositar” ideias em seu público, o que Freire chama de “concepção bancária”. Diz o autor:
“Quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis (ou fora dela), parece que mais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um caráter especial e marcante —o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras. (…) Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos com conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. A palavra, nessas dissertações, se esvazia da dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. Daí que seja mais som que significação e, assim, melhor seria não dizê-la. Por isto mesmo é que uma das características desta educação dissertadora é a ‘sonoridade’ da palavra e não sua força transformadora.” (FREIRE, 2005, p. 65)
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